17 de dezembro de 2009

Glauco Diógenes | entrevista

Conversamos com o diretor de arte, designer e ilustrador Glauco Diógenes, falamos do cenário do design no Brasil, de seu último trabalho para Cowparede, ilustração e muitas outras coisas bacana. Confira abaixo nosso bate papo!


Qual a diferença entre trabalhar com uma equipe e trabalhar sozinho como freelancer?
Vou começar respondendo que como quase tudo na vida é necessário achar um ponto de equilíbrio, há projetos e projetos, vantagens e desvantagens em ambos os casos. Quando atuo como Ilustrador, designer num projeto que não demanda uma equipe maior do que 3 pessoas, ou projetos “micro”, prefiro desenvolvê-los sozinho e geralmente é assim que ocorre, consigo um tempo bacana, um preço competitivo em relação ao mercado e um toque de exclusividade que tem valorizado o meu trabalho e as marcas que me contratam.

Quando atuo como diretor de arte ou mesmo designer seja num projeto editorial, website, instalação ou alguma outra demanda, uma equipe ótima, é fundamental. A vantagem de trabalhar sozinho é que eu tenho a segurança, e confiança de que aquilo só depende de mim, do meu tempo, da minha dedicação e do meu foco. Quando se trabalha em equipe além da produção que invariavelmente acabo me envolvendo, tenho que administrar cronogramas, processos, prazos e tudo isso é bastante desgastante, principalmente quando envolve programação e website, como atuo remotamente e não tenho uma equipe fixa para desenvolvimento de websites está cada vez mais difícil encontrar gente realmente boa, profissional e principalmente que cumpra os prazos. A maioria está for a do Brasil e os que se enquadram nesse perfil empregados e valorizados em grandes corporações que ainda não posso competir, ainda. Agora quando você tem uma equipe fixa com gerentes de projetos, diretores de arte, designers, assistentes, redatores, programadores, e cada um sabe o que tem que fazer dentro do projeto e tudo funciona orquestrado o resultado final é bem gratificante, além disso tem o lado da “troca” de estar descobrindo e discutindo coisas novas o tempo todo, por mais antenado e pesquisador que eu seja, é humanamente impossível saber de tudo o que rola de bacana, trabalhar, entregar os projetos e ficar lendo... coisa que com uma equipe multidisciplinar você é alimentado o tempo todo até indiretamente.


Cada vez mais, os estudantes e jovens designers estão desenvolvendo um diálogo onde se mistura design e ilustração, qual é a real relação que você vê nisso?
Eu acho que é a melhor das relações, melhor até do que o designer que programa, ou ainda que também consegue animar em bom nível. O desenho é a base de tudo o que nós temos, do que é “paupável”, de objeto de desejo no mundo, nasceu do desenho, da forma e de seu controle, seu domínio absoluto... é o ínicio da materialização de tudo, das idéias, do pensamento, o designer que tem todos os fundamentos bem desenvolvidos, como conhecimento aprofudado de geometria, tipografia, psicologia, história da arte, bagagem cultural importante e ainda por cima desenha é diferenciado, muito difícil de competir. É para mim, sem dúvida, um privilegiado.


Você acha que o design no Brasil já tem sua própria identidade?
Eu acho que mais importante até do que a questão identitária, o design brasileiro alcançou reconhecidamente um enorme nível de profissionalismo e qualidade. Acho difícil conseguirmos conceber numa estética única, num sentido um desenho de design brasileiro, uma unidade como você reconhece em alguns casos também raros, como suíça, suécia, itália e outros poucos países onde o design é um instrumento da sociedade e não ainda um artigo de privilegiados como no Brasil ainda o é. Acho que o Design brasileiro é extremamente competitivo e em pouquíssimo tempo de disseminação já não deixa a desejar pra nenhum outro do mundo. O que falta ainda são mais empresas, investidores e uma melhor distribuição de renda pra deixar o design mais accessível e com isso termos possibilidade de abrir ainda mais o mercado e sensibilizarmos as pessoas para sua real importância.


Conte pra gente como foi pintar novamente para Cowparede?
Uma experiência fantástica, única, baita oportunidade, na primeira vez em 2007 viajei para o Rio de Janeiro para poder produzir o projeto, não pintava muito bem e foi uma possibilidade de aprendizado bastante intensa e importante, por que tinhamos prazo curto, precisei de dois assistentes, um para cada etapa, nessa segunda edição em 2010, já estava mais tranquilo e consegui inserir “método” na produção, com isso otimizamos o tempo e o resultado ficou melhor ainda. Eu recomendo, quem tiver a oportunidade de produzir vai com tudo... (risos).


Hoje no Brasil é fácil encontrar designers dizendo que são diretores de arte, o que você acha da banalização desse cargo?
Não vejo como banalização, acho que é uma evolução natural da espécie... uma questão de necessidade e dinâmica da profissão, até; além é claro, da vontade de produzir que todo diretor de arte, designer tem, uma coisa meio megalomaníaca até (risos) e a possibilidade que os novos softwares trouxeram você acaba tendo profissionais multifacetados que executam muito bem 2, 3, 5 ou mais funções, óbvio que existem exceções, mas acredito que nos dias de hoje dada a fusão de disciplinas um cara que só faz logo, ou só ilustra, ou só faz direção de arte acaba meio que restrito e perde terreno, por melhor que ele seja, se eu puder ter um Diretor e Arte trabalhando para mim, que seja muito bom, ilustre muito bem e anime bem, vou preferir ao invés de um diretor de arte que seja um gênio mas não saiba desenhar uma casinha... Óbvio que tudo depende do foco e da empresa que você está, do serviço que você presta estou falando especificamente com relação ao Design, Design visual, Ilustração, Webdesign que são as áreas em que atuo.


O que te inspira?
Absolutamente tudo, de um passeio num parque, um bom jantar num restaurante legal, uma exposição de arte ou espetáculo de teatro, e quanto mais informações fora do contexto do design melhor, para sair dos vícios, cópias e grafismos que todo mundo faz. Há uma confusão entre “globalização ” com reprodução em série, seja na linha dos carros que parecem derivações sobre o mesmo tema, passando pelas revistas. Engraçado, mas você tem às vezes o mesmo grafismo utilizado num gráfico econômico e numa arte de material esportivo. Para evitar isso o segredo é trabalhar com prazos maiores e dedicar um tempo importante nos processos de pesquisa e produção.

Um comentário:

Roni Gomes disse...

Gostei da entrevista!
Meu sonho é trabalhar com designer visual ... mais um profissional pra eu me espelhar!
Valeeu!

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